E nessa época, o que nós pais mais temíamos, era que os nossos filhos, por estarem na rua, se perdessem dos valores apreendidos no seio do lar, entre pais e avós unidos pelo carinho, afecto e o respeito, no dia a dia do crescimento juntos. Contudo, naquelas antigas saídas dos adolescentes, podem se ter sucedido numa peripécia de coisas, experiências sem futuro, mas o que eles estavam fazendo era espontâneo, sentido, testando habilidades e tendo sucesso e falhando em montanhas de pequenas interações em tempo real.
Todos nós já percebemos, embora continuemos a encarar isso como um efeito da evolução da nossa espécie, que as redes sociais têm um impacto extremamente negativo na saúde mental de todos nós e muito particularmente na saúde mental dos adolescentes. Na depressão, ansiedade, solidão, má imagem corporal, entre variadíssimas outras que a ciência ainda irá escrutinar.
Quando uma adolescente chega a casa após um dia de aulas, o que seria suposto ver e ter, era um sorriso da mãe e do pai, um abraço de satisfação e carinho, mas o que verdadeiramente observa é a mãe e o pai debruçados sobre o monitor do PC, casos há, em que a mãe, passando todo o dia no computador a ver reality shows como o BigBrother, nem o rosto dá para ver, quando a filha chega a casa. Inacreditável, mas é um triste facto. Daí, vem o mau exemplo, o que leva a que a filha se refugie no seu próprio espaço e aí se mantenha tempos infinitos, na sua viagem pelo perigoso mundo exterior. A falta de uma auto estima sólida, bem alicerçada numa cumplicidade com uma mãe atenta e dedicada, pode ser a culpada pela vulnerabilidade de uma adolescente desenvolver de forma saudável, a sua segurança emocional.
Os adolescentes passam, “queimam” horas infindáveis procurando no exterior moldarem o seu carácter e a sua personalidade, ao arrepio do que deveria ser a obrigação dos progenitores, envolvidos nos seus dramas e dilemas e descurando a proximidade, o carinho e o afecto. Casos há, que chegam ao desplante de reclamarem que os filhos não se preocupam em dar carinho e afecto, subvertendo a ordem natural da maturação de um adolescente em formação. Eles esperam, obviamente, receber mais do que dar, faz parte da aprendizagem o desenvolvimento dos sentimentos, mas que os pais, mesmo aqueles com mais instrução académica e com isso um pouco mais de “bagagem”, parecem estarem alheados. Sem receberem, jamais aprenderão a desenvolver a reciprocidade do dar, do devolver.
As novas tecnologias, especialmente os smartphones, trouxeram grandes mudanças nos relacionamentos entre pais e filhos. Os adolescentes actualizam os seus “feeds”, partilham o que leem e ouvem e sentem, de uma forma pouco natural na essência da natureza humana, de que não estão sozinhos. Se uma mãe envolvida nas suas atribulações não der importância, não se esforçar por encontrar outra forma de socialização para a sua filha, será certo e sabido que está a passar ao lado dos momentos mais importantes na convivência, crescimento e maturação da filha. Nem adianta arranjar desculpas pela sua incapacidade de saber contornar o problema, se não houver uma vontade e um compromisso sério de desviar as atenções dos adolescentes para os verdadeiros prazeres da vida, interação pela socialização real, em lugar do online.
Quando o telemóvel substitui as horas de convívio no seio familiar, quando o telemóvel está presente nos momentos mais íntimos dos adolescentes, na ida à casa de banho, até à hora de irem para a cama, muitas das vezes retirando o tempo ao descanso físico e cerebral, teremos em perspectiva um futuro dramático, desequilibrado, cuja saúde mental estará fortemente deteriorada. Se uma mãe ou um pai não forem capazes de estarem preparados, atentos e determinados a evitarem os males vindouros e que a ciência já previu, são pais desqualificados, não merecem nem o título, nem o privilégio.
Seja o que for que cada um de nós enquanto pais pense sobre os relacionamentos mantidos e iniciados nas redes sociais, na verdade os adolescentes não conseguem facilmente colocarem uma “pausa” nessas conectividades virtuais. E em virtude disso, na maioria das situações se colocam perante a ansiedade de uma introspecção nos relacionamentos reais. Sem tempo para “pausarem”, ficam literalmente esgotados, entram numa espiral de ansiedade e de fadiga progressiva.
Se em casa são menosprezados muitas das vezes e sendo normal que nas redes sociais o sejam também, aparecem as depressões ao se saberem preteridos e ignorados, especialmente por quem menos esperariam, pelos próprios pais.
Antigamente, quando alguém rompia um relacionamento, teria que conversar, explicar as razões, justificar e com mais ou menos sofrimento, a vida lá seguia, coexistindo entre expectativas frustradas e perspectivas vindouras. Actualmente, nos telemóveis basta bloquear, desaparecer da nossa interligação, sem o adolescente saber sequer o que deu azo a tal. Ficam imaginando o pior de si mesmas, com os imponderáveis sentimentos de culpa, mesmo que a conexão visual não acabe, o estar em permanente expectativa de um contacto, desencadeia enormes fluxos de ansiedade. O sentimento de estar em segundo plano, seja em casa seja nas redes sociais, contraria a necessidade fundamental e básica do ser humano de nos comunicarmos, dando lugar ao isolamento psicossocial.
Quando vemos uma adolescente a recorrer à internet em procura de auxílio, ou para processar algum acontecimento do dia, ou um comportamento mais radical, impositivo, desproporcional dos pais, (da mãe), não adianta a esses pais ficarem bravos, fazerem alarido, irem pelo caminho da gritaria, se assim procederem não se admirem depois das consequências. É que a internet está preparada mais do que nunca com o advento da IA, para dar mais respostas, mais informações, mesmo que as não faculte com os mesmos valores, daqueles dados pela mãe, que se preze. Soluções são diversas, mas será sempre em bom ambiente familiar que surgirão as melhores, mesmo que não sejam as mais perfeitas. Ponderação, meditação, diálogo do “cara a cara”, dos “olhos nos olhos”, é das coisas mais fascinantes do processo de existir da natureza humana. Os laços sentimentais, podem vencer as redes sociais, ou pelo menos minimizar a apetência actual dos adolescentes de encontrarem nelas o seu principal refúgio.