O Alasca, territorialmente o maior Estado da federação americana, com 1.7 milhões km2 (se fosse um país seria o 17º em território, atrás de Portugal com a plataforma continental que seria o 16º), e populacionalmente é o mais pequeno Estado da federação americana, com pouco mais de 730 mil habitantes, (mais coisa menos coisa que a população dos concelhos de Lisboa e Loures), foi palco para um encontro histórico, a vários títulos, como se percebeu pela enorme ansiedade gerada em todo o planeta, pela circunstância de nada mais nada menos colocarem frente a frente o Presidente dos Estados Unidos, e o Presidente da federação Russa.
A escolha do local, foi muito além de uma mera curiosidade, a vários títulos, desde logo por distar do País convidado apenas uns 4 km, fazendo lembrar ao mundo o quão próximos são, territorialmente, os Estados Unidos e a Federação Russa, por via da proximidade entre duas ilhas, separadas pelo inclemente mar de bering, uma pertencendo á Federação Russa, sendo o seu ponto a este – Diomedes grande – e outra pertencendo aos Estados Unidos da América, sendo o seu ponto mais a oeste – Diomedes pequena, distando entre si apenas 3,8 km.
Outra “separação” entre ambos os territórios é o fuso horário, cujo diferencial são 21 horas, e se Putin estiver na ilha Diomedes grande, da Federação Russa, e telefonar para Trump estando este na ilha Diomedes pequena, nos Estados Unidos da América, pode-se afirmar, com toda a segurança científica, que Putin falou para o passado, e Trump falou para o futuro, em razão do fuso horário que faz com que numa ilha seja o “ontem” e na outra seja o “amanhã”.
Até 2012, no inverno, com o congelamento das águas, era possível ir de uma ilha á outra sobre o gelo sólido. As alterações climáticas impuseram mudanças drásticas e deixou de haver congelamento dada a elevação das temperaturas. Agora a travessia só de barco ou de avião, não só entre estas ilhas, como para se aceder a todo o Alasca.
Acredita-se que se Putin tem as unhas roídas, uma ou outra é por conta do Alasca, pois este já foi território Russo, no século XIX, mas uma enorme dificuldade financeira nos cofres do Czar, levaram a Rússia a vender aquele território, por uns míseros7,2 milhões de dólares, em 1867. De resto os Estados Unidos da América, formaram-se, por recurso á compra de vários territórios, hoje estados da federação, dos quais o Alasca é um dos exemplos.
Assim, esta reunião de trabalho entre estes líderes mundiais acontece num território que faz parte da história de ambos os países, o que nos leva a pensar que provavelmente ambos se sentiram “em casa”. Em mais nenhum outro lugar do planeta isso seria possível.
Para Trump, acresce ainda ser duplamente em casa, é não só em solo americano, como ainda por cima, é num Estado Republicano, cujo governador Mike Deleavy, é seu correligionário. Enfim vale o que vale.
Mas a importância do Alasca, e por maioria de razão não ser inteiramente inocente esta a escolha para uma reunião de trabalho, entre potências, como a americana e a russa, é a proximidade do local ao círculo polar ártico.
O interesse pelo ártico começou com a Alemanha Nazi, mesmo antes da II Grande Guerra Mundial. Recentemente forma descobertas resquícios de bases secretas nazis no ártico. Esta base tinha por missão fundamentalmente elaborar boletins meteorológicos vitais para a guerra, tanto para a Alemanha Nazi como para os aliados. Os teóricos da conspiração iam mais além e defendiam existirem outros interesses no ártico, relacionados com a presença alienígena no nosso planeta. Himmler, o todo poderoso líder das SS tinha um particular fascínio por essa temática e não só.
Porém atualmente o interesse pelo ártico é fomentado por alterações climáticas que induzem ao degelo das calotes, o que viabilizaria duas rotas comerciais, encurtando o tempo de transporte, entre a Ásia e a Europa, pela passagem do Noroeste que atravessa as ilhas do ártico canadiano, e a rota do mar do Norte, ao longo da costa Russa, tornando-se uma alternativa ao canal do Suez. Dito de outra maneira, era como repristinar a epopeia marítima portuguesa, que encurtou o tempo entre a Europa e o Oriente, pela via marítima natural, algo que nenhuma outra nação conseguiu igualar até hoje.
Para além desta possibilidade de rotas alternativas, somam-se ainda as reservas energéticas que se pensa existirem no ártico, intocáveis ao longo de milénios.
Atento aos países que disputam este tabuleiro ártico – Rússia, Canadá, Estados Unidos da América, China e Países Nórdicos – as duas maiores potências nucleares do mundo, escolherem como local de reunião o Alasca, convoca, quase obrigatoriamente, a suspeição de não ser inocente a escolha.
Este encontro entre Trump e Putin, vem mostrar aos apologistas do isolamento a que este último estaria votado, que afinal isso é uma ilusão, pois para estes apologistas não bastava ver nos BRICS e na organização para a Cooperação de Xangai, que reúne 10 países asiáticos e orientais, “peso” suficiente para a Rússia se sentir acompanhada no plano internacional.
Aliás a Ucrânia foi o leitemotiv para os países do ocidente, se desmultiplicarem em declarações inflamadas sobre a pouca importância da Rússia, no plano militar, económico e geoestratégico, banindo-a do estatuto de grande potência, durante os últimos 3 anos.
O “murro no estômago” nas lideranças ocidentais, com a entrada em cena de Trump, foi tal que espalhou o pânico, na Inglaterra, França, Alemanha, Canadá etc. Trump encara Putin como um “igual”, e isso é um sapo difícil de engolir.
A Humilhação a que sujeitou Zelensky, na sala oval, na Casa Branca, foi uma certidão disso mesmo passada por Trump, ao mundo.
Hoje, a Rússia não está isolada no mundo, como até é o centro das atenções do Mundo, e Putin, desembarcando no Alasca é uma afirmação dessa condição, á vista de todos.
E o que nos mostraram as imagens desse desembarque?
Trump aguarda Putin, a quem lhe estenderam uma passadeira avermelha, na maior base militar que tem no Alasca, e mostra-se tão ansioso e tão entusiasmado que ao ver a figura do Presidente da federação Russa, dá um pulinho e bate palmas, qual miúdo aguardando pelo chupa-chupa preferido.
Um aperto de mão parece coisa simples, mas é uma arte, desde logo de intimidação ou de demonstração de quem é o “boss”, e Trump sabe isso, e por essa razão quando estica a mão e a aperta ao interlocutor ele dá um puxão na sua direcao vigoroso, provocando um ligeiro desequilíbrio ao seu interlocutor, puxando-o na sua direcao, como quem diz, “o patrão aqui sou eu”.
Com Putin, não o fez, numa clara demonstração de respeito, ou medo reverencial, ou ambas. Consequentemente o palco principal ficou para Putin.
Putin, inclina-se ligeiramente sobre Trump, e diz algumas palavras, certamente não em cirílico, seu idioma natal, mas para quem domina o inglês, alemão, espanhol, e ucraniano, certamente foi fácil exprimir-se no único idioma que Trump domina, o inglês. Esta ligeira inclinação exprime à-vontade suficiente para entrar no “inner circle”, espaço reservado, de Trump, e é uma forma de afirmação de “domínio” comportamental. Mais uma.
Enquanto caminham, o circunspecto Trump, e Putin, visivelmente satisfeito, de forma algo descontraída, aquilo só faltava darem as mãos como em tempos vimos Trump e Macron fazê-lo, (outros tempos pois Macro, para Trump não passa de um bom rapaz, mas que não conta para nada), Trump, numa tentativa de agarrar a narrativa, chama a atenção para Putin que olha para o céu, e o que viu prendeu-lhe mesmo a atenção pelo interesse que demonstrou, ao ver uma formação de aviões, em sobrevoo, os mesmos que bombardearam o Irão – era a vez de Trump, subliminarmente, dizer “tás a ver foi com eles que pus o Irão na linha”. Terá Putin pensado “Mind games, fiz a mesma coisa á coitada da Ângela Merkel”, numa ocasião em que a chanceler alemã visitou Putin, este sabendo da sua fobia por cães, mandou colocar os seus maiores cães (enormes) na sala onde recebeu Merkel, e esta fez um esforço enorme para controlar a sua fobia o medo a cães, terá mesmo confessado a amigos mais tarde.
Chegados á um pequeno palco, Putin subiu o lance de escadas, com alguma desenvoltura, já Trump faz um esgar de esforço físico, quem sabe cogitando “estes idiotas esqueceram-se de por aqui um corrimão como nos aviões”. Ele agarra-se sempre ao corrimão do avião.
De frente para os jornalistas é perfeitamente audível uma esganiçada jornalista lançando a provocadora pergunta “senhor Putin, quando deixa de matar civis?”, Putin olha para ela com vontade de retorquir, “quando vocês deixarem de apoiar quem mata civis na Palestina”, mas … não é estúpido, finge que não percebe e com gestos parece dizer que não ouve, e ignora-a. Olimpicamente.
Numa sala, Trump e Putin, mais as respectivas comitivas, e uma plêiade de jornalistas quase pugilando pela melhor foto, pela melhor audiofonia, encaram a multidão de profissionais da comunicação social. Mais uma vez a linguagem corporal grita a sua mensagem: Trump ar sério, pensativo, compenetrado mesmo, com as pernas em diametria, paralelas entre si, e as mãos juntas formando como que um triângulo. Demonstra desconforto.
Putin, tem as pernas abertas formando um ângulo quase a 45º, demonstra domínio do ambiente que o rodeia. A tal jornalista esganiçadamente audível, volta a repetir a mesma pergunta, várias vezes, a resposta do visado foi olimpicamente igual á que já tinha dado – ignorou-a.
Ele há jornalistas assim, pouco interessados em dar notícia, o que pesa mais é dar espetáculo. Com tantas perguntas que podia fazer, só se lembrava daquela provocação.
Depois lá foram as comitivas reunir e tratar dos assuntos do mundo, entre os quais a Ucrânia, mas quase apostava que não foi o prato principal … isto eu a achar.
Na conferência final pós reuniões de trabalho, pouca coisa se ficou a saber, mas do pouco que se sabe as principais conclusões vão ser partilhadas primeiro com a Ucrânia e a Europa, disseram-no ambos, e Putin até reforçou esperar que a Ucrânia e Europa devem encarar as propostas de forma positiva.
Trump, deixou cair o tom de ameaças que fizera antes do encontro, e andou ali ás voltas com palavras de ocasião e parabenização, anunciando que iriam ser chamados ao processo a Ucrânia e amigos, indicando novos encontros.
Putin, sagaz, lança a última estocada interrompendo Trump, sugerindo “next time in Moscow”. Brilhante. Se for em Moscovo, é quase certo que Zelensky não se atreverá a ir lá, o seu povo não o perdoaria. Putin é isso que quer porque nutre pelo Presidente da Ucrânia um profundo e genuíno desprezo.
Já Trump não tem nenhuma margem de manobra, visto que é natural, depois de se realizar em solo americano a primeira reunião de trabalho, que a segunda seja em solo russo, a bem da coerência.
Muita água irá correr por baixo das pontes, mas que vem bomba grossa, lá isso parece que sim.
Veremos.





