Um tema que me suscita muita curiosidade, dado tratar-se de uma área a que estive ligado durante alguns anos o MARKETING e a Publicidade em geral e que com as mudanças no mundo, também necessita de alguma reflexão.
O mundo da comunicação digital, vive UMA FASE COMPLICADA, dominada pelo poder das redes sociais e dos influenciadores digitais e em que os meios tradicionais perdem todos os dias peso e capacidade de fazer chegar os seus conteúdos mais relevantes e importantes aos leitores.
A existência de influenciadores (youtubers) que são pagos e até têm uma tabela de preços para dizerem mal de uma marca concorrente, é do conhecimento geral no meio, colocam em evidência o pandemônio a que se chegou por falta de regulação.
Cada vez mais a responsabilidade de comunicar produtos, serviços, marcas, é entregue a quem tem capacidade de influenciar os consumidores (nada de novo, desde sempre que a publicidade recorre a gente conhecida), só que hoje são os próprios influenciadores que detêm os canais que veiculam essas informações. E ao contrário dos meios tradicionais — os órgãos de comunicação social, que têm regras, que estão abrangidos por códigos éticos e deontológicos —, estes canais dos influenciadores (canais de YouTube, blogues, páginas de Instagram) não se regem por qualquer tipo de regras, não estão sequer legislados, vivem ainda no tempo do vale tudo menos tirar olhos.
O submundo cada vez mais negro em que se movem influenciadores e marcas tem, necessariamente, de ser regulado, regulamentado, em defesa dos consumidores, sobretudo aqueles que não têm capacidade de discernir realidade e ficção, que se deixam efectivamente influenciar sem o perceber, como jovens e crianças. Num mundo como o actual, em que o digital nos entra olhos adentro a toda a hora, e entra olhos adentro dos nossos filhos e netos, em que a informação (editorial, comercial ou entretenimento) não está unicamente (nem sequer em maioria) nas mãos dos órgãos de informação, é fundamental colocar alguma ordem neste caos.
Não me parece curial, querer-se controlar a informação que as pessoas querem consumir tendo unicamente como base critérios jornalísticos. O mundo mudou e já não vai voltar ao que era. Um meio de comunicação social pode bem decidir que só vai noticiar o que é relevante, importante e aquilo que entende que tem valor jornalístico. Deixará de fora tudo o que são “fait divers”, tudo o que são curiosidades, futilidades, cusquices.
Na realidade, o acto de nos informarmos mistura-se quase segundo a segundo com o entretenimento. Para milhões de pessoas, a principal janela para o que se passa no mundo é o Facebook. Se aconteceu, se é relevante, então alguém já partilhou no Facebook. O scroll comanda a nossa vida informativa. Num segundo estamos a ver uma notícia importante e relevante, um segundo depois, feito o scroll, já estamos a ver a foto de férias do colega de trabalho, e no segundo seguinte já estamos a ver um vídeo de uma foca a bater palmas e mais um scrolll e passamos para uma partilha feita por um amigo com um texto de uma blogger a falar sobre batons. É este o mundo em que vivemos, é neste mundo que as pessoas querem estar, foi esta a realidade que Zuckerberg criou, foi esta a teia em que nos enleia, e agora ainda ninguém percebeu bem como sair dela se é que dela querem sair.
Ainda se o critério definido pelo Facebook para a amostragem dos posts fosse o da qualidade dos conteúdos, a relevância dos conteúdos, o valor editorial dos conteúdos. Não é. O Facebook mostra aos seus utilizadores aquilo que acha que eles querem ver, com base no seu histórico de interações, e é aqui que reside o cerne da questão. Quando estamos numa plataforma social não temos a mesma predisposição para ler artigos jornalísticos que temos quando andamos num site de informação. Estamos ali para coscuvilhar, para passar o tempo, para ver como param as modas e por isso, aquilo que nos vai ser mostrado são as cusquices, são as modas, são as notícias de que toda a gente fala, mas os outros, os tais conteúdos exclusivos, relevantes, de valor, de qualidade, esses, são mostrados a meia dúzia de pessoas (e se queremos que cheguem a duas ou três dúzias, então, que paguemos por isso). Podemos considerar um negócio, mas é um negócio que subverte completamente os princípios de uma sociedade informada, culta, interessante e interessada.
As redes sociais são as maiores responsáveis pelo actual desinteresse, mas sobretudo preguiça na leitura de livros. Habituaram-nos a saber tudo pelos títulos e a contentarmo-nos com títulos.
Se pudemos passar sem elas? Lá isso podíamos, mas a descoberta, as causas e as coisas, são irreversíveis!