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    InícioOpiniãoJosé VieiraO mapa político não vai mudar a 18 de maio

    O mapa político não vai mudar a 18 de maio

    Entramos nos últimos 15 dias de campanha, que antecedem o dia 18 de maio, dia de irmos, de novo, escolher o que pensamos ser o melhor governo para Portugal. Já vimos este filme há pouco mais de 1 ano e desconfio que veremos de novo dentro de pouco tempo. A política em Portugal mudou. E mudou muito. Já não se faz com os 2 partidos do arco do governo, que iam mudando ao sabor dos ventos, ora ganhas tu, ora ganho eu. Com o amadurecimento da democracia, o nosso ADN, enquanto portugueses habituados às amarras dos grilhões intelectuais foi mudando, e permitindo que evoluíssemos em áreas tão dispares, como por exemplo, a arte, a arquitetura, o pensamento crítico e também a forma como vemos a política e os políticos. De repente, e sem pré-aviso, em menos de uma década, a sociedade portuguesa transformou-se, alterando, de uma forma radical, o mapa político. Essa transformação foi rápida e tem vindo a intensificar-se ao longo dos anos (poucos) em que vivemos esta nova conjuntura política. O país, pós 25 de abril de 1974, apresentava os sinais caraterísticos de um país que saía de uma ditadura, com enormes dificuldades em todos os setores, tudo faltava, e todos queríamos tudo muito rapidamente, e não fosse a nossa entrada na EU, de certeza que estávamos neste momento muito mais atrasados, do ponto de vista estrutural e como sociedade evoluída, do ponto de vista social e intelectual. Se fizemos as reformas necessárias, também tivemos de vender a alma ao diabo.  Não podemos ter o melhor dos dois mundos. Investimento externo e autonomia.

    Escolhemos o investimento e pagamos com a perca de autonomia. Essa perca de autonomia levou-nos a ter de implementar políticas comuns aos estados da EU, o que vem despoletar esta mudança no mapa político. Se na década de 90 tínhamos e ainda temos o Mário Machado, com as suas ideias hitlerianas, mas sem nunca ter granjeado grandes apoios da população, agora temos o André Ventura, com o seu partido “Chega”, que é uma espécie de Mário Machado, mais refinado e com certeza muito mais inteligente. Somando-se uma democracia mais madura, à paragem do grande investimento externo no nosso país, à troika, e também aos escândalos políticos que temos assistido nos últimos 15 anos, temos a receita perfeita para proliferar vozes e ideias que não passam de populismos desenquadrados da realidade. Quando a direita tenta uma política de ajustes, de cortes nos apoios sociais, da reforma da economia, de restruturação, de alguma contenção e austeridade, visa em muitas das medidas o apoio às grandes empresas, em detrimento de quem ganha menos, e a esquerda, quando o poder muda e é governo, exagera na fórmula da correção, e faz uma inversão de 180 graus, procurando equilibrar o jogo, e amenizando a população mais debilitada e que necessita de rapidamente soluções que se traduzam em dinheiro no bolso. Portugal não pode, pelo menos para já, e na minha opinião, governar nem muito à esquerda, nem muito à direita. Para tudo é necessário equilíbrio e desde 1974, tivemos de tudo, menos equilíbrio político, salvaguardando-se obviamente algumas raras exceções, infelizmente muito breves.

    A extrema-direita conseguiu um crescimento extraordinário em 2024, como o conseguiu a extrema-esquerda, com o Bloco a ter no hemiciclo 19 deputados, em 2015, ano em que estávamos mesmo muito fartos da política de Passos Coelho, que mais uma vez não procurou o equilíbrio, e foi além da troika na austeridade.

    Nesse ano, a esquerda toda tem uma vitória esmagadora, subindo todos os partidos, deixando a direita com uma mísera percentagem, facto que levou à geringonça. António Costa, empolgou-se com a sua autoavaliação de uma mente superior, e congeminou, com Pedro Nuno Santos (dizem que foi o pai da geringonça), uma forma de governar. Afinal, a esquerda ganhou o país, teria todo o direito de governar. E assim fez. E assim de novo, não aprendendo nada, exagerou na receita. Passamos de um sistema demasiado austero para um sistema demasiado permissivo e esbanjador. Passados 9 anos, nova mudança (2024). O povo, aguçado pelos discursos populistas de André Ventura, deu à direita a vitória. O mapa acabara de mudar. E possivelmente não mudará em 2025. Apenas porque ainda é cedo. Não demos à direita a oportunidade de estragar as coisas, de novo, de exagerar nas medidas, e levar-nos para a austeridade ou coisas piores (sim, porque há coisas piores). Luís Montenegro não está a ser ele próprio no papel de primeiro-ministro. Ele foi um bom aluno de Passos Coelho e deseja enviar Portugal no caminho de uma economia mais centralizada nos grandes grupos, e deixar cair os pequenos empresários, entre outras políticas antissociais. Mas como não teve maioria na Assembleia, sabia que teria de ir de novo a votos e então vestiu a pele de cordeiro, na sua essência de lobo. E conseguiu esse efeito junto ao eleitorado. Vai ganhar, talvez vá aumentar a sua base de apoio, e depois teremos um déjà-vu, de volta ao passado, mais propriamente aos anos de Passo Coelho. Concordo que Passos Coelho herdou um país na banca rota, mas não devia ter ido tão longe nas medidas que implementou e outras que queria implementar, mas o povo sabiamente conseguiu parar, como foi o acaso da tentativa de baixar a TSU para as e empresas e aumentar ao trabalhador, em 2012. O país uniu-se e mandou a mensagem que ou ele invertia o caminho ou ficava logo ali no caminho.

    Que políticas de direita Montenegro passou nestes 11 meses em que governa? Nenhumas. Reforçou sim as políticas sociais do PS e, entretanto, criou mais algumas, visando as eleições que sabia que teria de enfrentar. Nem o caso pessoal que enfrenta, com as suspeitas de favorecimento a algumas empresas, parecem parar os apoios que tem. Isto tudo porque ainda é cedo. O povo, preocupado com as novelas e com o Big Brother, ainda não interiorizou a possibilidade de termos mais um primeiro-ministro metido em jogadas sujas e vai dar-lhe o benefício da dúvida. E aqui se identifica o erro da esquerda. A esquerda não deu tempo suficiente para ele se revelar e devia sim ter apoiado a moção de confiança, ou pelo menos abster-se, para que Montenegro se mantivesse no poder mais algum tempo. Não se compreende como é que Pedro Nuno Santos deixou levar-se por mergulhar o país em novas eleições, sabendo que e olhando-se o passado, o futuro não augurava um bom desfecho para o PS. Com Cavaco em 1987 e costa em 2022, o povo reforçava-os assim, castigando os causadores de novas eleições. Será que a memória é curta ou os conselheiros de Pedro Nuno Santos nem para engraxadores de sapatos servem? Agora, vamos assistir a mais uma vitória da AD, e talvez daqui a algum tempo se possa mudar de novo o mapa político, já com grande desgaste de Luís Montenegro, que auguro que seja o coveiro do PSD. O Chega obviamente vai subir á conta do PSD, mas espero que uma parte dos votos siga para a esquerda. E aí o ciclo recomeça, trazendo mais do mesmo. A alternativa a isto, infelizmente, não se recomenda.

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    José Vieira
    José Vieirahttps://www.aveirotv.tv
    Desde muito novo ingressou no mundo da comunicação social, em órgãos regionais, tendo sido fundador e diretor de 7 títulos, sendo atualmente diretor do jornal regional Aveiro TV e da rádio regional N16.

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