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    Prestes a começar a corrida autárquica o país vai-se definir politicamente para os próximos anos


    Agora que acabou a corrida eleitoral das legislativas, outra começa, muito mais local e muito mais visceral. As autárquicas mexem muito mais com as nossas tripas, coração e cérebro do que qualquer outra eleição.

    Este ano e pela conjuntura política, vamos todos tentar acertar e talvez falhar, sobre como se vai comportar o mapa autárquico em vigor.  De certeza que vai ser um excelente ano para as empresas de sondagens, apenas por 3 pequenos (grandes) detalhes. O PS está na chamada rua da amargura e tão cedo não se recupera, o CHEGA sendo a segunda maior força política do país, vai pela primeira vez (já foi mais, mas esta é a doer) testar o seu eleitorado local, enquanto que o PSD e o CSD/PP vão tentar andar entre os pingos da chuva, pois a AD foi a força política a crescer mais, diretamente proporcional à queda do PS e aguardam que a esgrima se faça entre o que resta do PS e o irrequieto CHEGA que pretende acabar o que começou, que é tirar mais alguns pontos ao PS, pois a restante esquerda está muito esquelética, e ganhar câmaras, consolidando o seu eleitorado.

    “Mesmo com Marcelo Rebelo de Sousa a protelar a data de irmos a votos, para ver se o PS vai remendando alguns furos na estrutura e ganhar assim algum tempo, o facto é que vão ser precisos pelo menos 2 anos para o PS fazer as pazes com o seu eleitorado…”

    Mas vamos por partes:

    O PS devido ao desaire já anunciado antes das legislativas, fruto do maior erro de Pedro Nuno Santos em querer ir de novo a eleições, está neste momento sem eira nem beira. Carlos César faz o que pode, mas tão cedo o partido não irá afirmar uma liderança consistente e forte. Mesmo que José Luís Carneiro (ou outro candidato) tome posse rapidamente, não tem tempo até às autárquicas de reconstruir este partido. Mesmo com Marcelo Rebelo de Sousa a protelar a data de irmos a votos, para ver se o PS vai remendando alguns furos na estrutura e ganhar assim algum tempo, o facto é que vão ser precisos pelo menos 2 anos para o PS fazer as pazes com o seu eleitorado, que viu fugir, essencialmente para o CHEGA e para a AD. Ora, sabemos perfeitamente que quem é de esquerda, por norma e numa situação normal, não vota à direta, nem tão pouco à extrema-direita. O contrário também é verdade. Mas de facto, isso aconteceu, e só nos informa que estamos perante um ciclo político anormal, e que o povo quer enviar um recado à esquerda. Não foi só o PS que afundou, mas sim quase todos os partidos à esquerda, livre exceção ao LIVRE, que conseguiu manter-se e até mesmo crescer alguma coisa. O PS e desde há 12 anos, tem tido sempre a maioria das câmaras em Portugal (em 2021 ganhou 148). Neste momento, com diversos Presidentes de Câmara do partido a serem impedidos de se recandidatarem, e muitos valores a fugirem para outros partidos, não é fácil fazer futurologia. Cheira-me que o PS vai levar um tombo, ou não. Tudo depende do CHEGA, pois, a direita tradicional deverá manter o que tem. Mas já lá vamos.

    Na segunda parte, falemos do CHEGA.

    Sendo um partido muito recente, não tem ainda tempo de fidelizar o seu eleitorado. Falo das massas, aqueles que lhe deram os 60 deputados. O CHEGA terá, certamente, capacidade para eleger de 12 a 18 deputados, num ciclo político normal, pois os portugueses estão habituados a esta alternância entre partidos, a chamada bipolarização, e não vão arriscar num regime que poderá fazer muito bem, ou muito mal. Ou seja, um regime de incerteza. E depois, quem conhecemos de valor que está no CHEGA? Sim, alguns nomes com algum destaque, mas na maioria dos casos, vemos pessoas que não estão de todo preparadas para assumir cargos de gestão governamental. E os portugueses sabem disto. E alguns votaram CHEGA justamente para dar um cartão amarelo ao PS e à esquerda. Não foi ao sistema, porque senão a AD não teria crescido tanto, e convém registar que foram quem mais cresceram nas últimas eleições. Ressalve-se que o CHEGA venceu a esquerda, não o sistema.

    André Ventura e a sua comissão de gestão das autárquicas devem andar com os nervos à flor da pele. As autárquicas serão as eleições que das duas uma, ou acabam de vez com o PS e remete-o para números impensáveis, e o CHEGA começa a pintar o mapa autárquico com os seus executivos, ou o CHEGA não é relevante no panorama local, tudo se mantém e os que advogam que o voto no CHEGA tem sido e apenas de protesto provam o seu ponto de vista. Por estes motivos, André Ventura não vê com bons olhos estas eleições. Não pode. O CHEGA precisa de tempo para consolidar, pois cresceu muito rápido, e não estou a ver candidatos de peso que se aproximem do CHEGA para assumirem candidaturas às câmaras municipais. As autárquicas são umas eleições muito pessoais e ou unipessoais, sendo preciso haver solidificação eleitoral, ligações muito fortes entre candidatos e eleitores e o CHEGA ainda não chegou lá. Se André Ventura perder as autárquicas, será o começo do fim para o CHEGA e a normalização do sistema político bipolar. Este filme já passou em muitos países e o que chama à atenção é o crescimento do populismo, porque encaixa perfeitamente na revolta das pessoas, mas na altura certa ninguém quer atirar o país para um sistema político e para políticos que pouco se sabe, que poucas provas deram à sociedade e assim arriscar algumas conquistas de abril, que são e nomeadamente a liberdade, o SNS e as pensões, pedras basilares da nossa sobrevivência.

    Por último, o PSD, o CDS e o PSD+CDS

    “Nem mesmo os diversos escândalos do nosso PM parece abalar a coligação. Sem maioria, vamos ter mais do mesmo deste futuro governo, ou seja, políticas ao centro/centro-esquerda…”

    Se analisarmos que a AD foi a coligação que mais cresceu nas últimas eleições legislativas, comparativamente a 2024, pode-se antever alguma estabilidade de votos. Estando a guerra política concentrada entre o CHEGA e a esquerda, o PSD sozinho, ou coligado com o CDS, vai tentar manter ou mesmo crescer o nº de câmaras. Estes dois partidos estão quase a fazer as pazes com um eleitorado que prejudicaram bastante, no tempo de Passos Coelho, e vão assim consolidando as suas bases. Nem mesmo os diversos escândalos do nosso PM parece abalar a coligação. Sem maioria, vamos ter mais do mesmo deste futuro governo, ou seja, políticas ao centro/centro-esquerda, e mais uma vez Montenegro não vai conseguir executar o que deseja, virar o país mais à direta, cortando direitos fundamentais, e dando ao privado o manjar dos deuses. Não. Luís Montenegro não teve maioria, não pode governar como bem lhe apetecer. E não havendo entendimento com o CHEGA, vamos ver muitas vezes a Assembleia Nacional a governar por decreto. O que quer dizer que vamos continuar a desbaratar muito dinheiro mal gasto, e daqui até setembro, a AD vai continuar a crescer, e isso vai-se refletir certamente no resultado das autárquicas. Com esta luta entre a esquerda e o CHEGA, basta à AD e aos seus partidos recolher algum do espólio que vá sobrando dessas batalhas, para irem estabilizando as suas bases e crescendo alguma coisa.

    Em suma, acredito que vão ser umas eleições bem interessantes, politicamente esclarecedoras e decisivas também para o PS e o CHEGA. Ou o PS recupera ou o CHEGA consolida-se. Vai tudo girar à volta disto. Tudo o mais é cenário eleitoral.

    Os restantes partidos, embora merecendo todas as honras na minha escrita, saem fora do âmbito e do objetivo que pretendo para este artigo. Certamente, falarei deles em futuros artigos e analisarei com mais alguma profundidade a sua trajetória.

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    José Vieira
    José Vieira
    Desde muito novo ingressou no mundo da comunicação social, em órgãos regionais, tendo sido fundador e diretor de 7 títulos, sendo atualmente diretor do jornal regional Aveiro TV e da rádio regional N16.

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