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    A Extrema-Direita do Humor

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    Durante décadas, o humor português conviveu com a política de forma inteligente, crítica e civilizada. Não era preciso despir presidentes nem urinar em cartazes para provocar o riso e, ao mesmo tempo, fazer pensar.

    Se o parlamento português fosse uma galeria de grandes humoristas, Nicolau Breyner seria o PSD: afável, popular, com sentido prático e bom senso de palco. Herman José, com a sua irreverência sofisticada, encaixaria no PS — um centro-esquerda provocador mas institucional. Mário Viegas, culto e combativo, seria o PCP, pela intensidade e verticalidade. Raul Solnado, com a sua ternura desconcertante e moral humanista, seria o CDS que já não temos: conservador, mas civilizado. Todos eles fariam humor — mas nunca deixariam de se respeitar.

    Hoje, algo mudou. O novo humor político, protagonizado por figuras como Ricardo Araújo Pereira, Joana Marques ou Bruno Nogueira, deixou de satirizar com ética e com linhas vermelhas. Passou a fazer o que a extrema-direita faz com discursos inflamados: atacar as instituições, os rostos que as representam e até a própria ideia de serviço público. Vestiram a capa da ironia para alimentar a narrativa do “anda tudo a gamar”, “são todos iguais”, “não se aproveita ninguém”, “isto é gozar com quem trabalha” — chavões que, curiosamente, são indistinguíveis dos que se ouvem nos comícios do Chega.

    O exemplo não é novo. Em 2011, no auge de uma das maiores mobilizações populares da década, os Gato Fedorento viajaram até aos Estados Unidos para gravar um sketch com Steven Seagal, numa sátira aparentemente inofensiva, mas que reduzia a manifestação popular a um capricho nacionalista e folclórico. Era o início de um novo ciclo: o humor como descompressão sem consequência, desvalorizando o protesto e ridicularizando o inconformismo. O riso substituiu a indignação. E isso teve um preço.

    É legítimo e necessário rir da política. É até saudável. Mas quando o humor recorre repetidamente à humilhação pública, à exposição cruel, ao julgamento físico e pessoal — como nas piadas sobre as alterações de aparência de Joana Amaral Dias, ou na cena grotesca de um presidente nú sob uma gabardine — deixa de ser humor e torna-se ressentimento travestido de sátira. É uma indignação comediante que deixou de entreter e passou a galvanizar a desconfiança. Que diferença há entre um cartaz do Valentim Loureiro a ser urinado num programa de humor e o que alguns deputados da extrema-direita sussurram nos corredores da Assembleia? Apenas uma: o palco.

    Há um Chega com assento parlamentar. Mas há também um Chega do entretenimento, mascarado de sarcasmo libertador. Os humoristas de hoje têm um poder político que os de ontem recusavam por decência. Mário Soares e Freitas do Amaral — vivos e bem lúcidos nos seus últimos anos — nunca aceitaram participar nesses espaços de Ricardo Araújo Pereira e companhia, mas foram entrevistados com gosto e dignidade por Herman José e Nicolau Breyner. Não por sobranceria, mas porque sabiam distinguir crítica de achincalhamento, liberdade de expressão de espetáculo cruel.

    O riso é uma arma, mas pode ser também um anestésico perigoso: embala-nos na ideia de que nada é sério, nada é digno, tudo é motivo de escárnio. É essa cultura do cinismo total que abriu espaço para o populismo bruto, para o anti-intelectualismo e para a destruição da autoridade democrática. Sei que quem está no espaço público sente que tem de dar pancadinhas nas costas a estes humoristas. Eu não. Não me revejo nessa gente — e não escondo o desconforto. Afinal, com ou sem intenção, cumpriram a vontade do Chega: fazer da política um circo e dos políticos uma anedota permanente.

    Ministro da Agricultura inaugura Feira da Vinha e do Vinho

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    A Feira da Vinha e do Vinho (FVV) 2025 abre “portas” na próxima quarta-feira, 18 de junho, para cinco dias de muita animação, alegria e convívio. A cerimónia de inauguração vai ter lugar, pelas 18h00, no Vale Santo, em Anadia, com a presença do Ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes.

    Com um cartaz de animação bastante eclético, a FVV conta com a presença de Nininho Vaz Maia, Sara Correia, MC Daniel, Dupla Mete Cá Sets, a banda britânica Morcheeba e os Cromos da Noite que vão atuar no palco “Terra de Paixões”. As noites prolongam-se com os DJ’s Renas, André M, Christian M, Pedro Moniz, André Cardoso, Mr. White, Tiede. No ultimo dia, 22, a tarde será dedicada aos mais novos com um espetáculo infantil pelo Cocomelon e Bluey.

    O palco “Sentir Anadia” está reservado para as associações que, desta forma, poderão dar a conhecer o seu trabalho recreativo e cultural. Este ano vão passar por este espaço a Tuna Mista do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra; a Orquestra Desigual da Bairrada; o Coletivo Musical do Club de Ancas Baga Madura; o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Vilarinho do Bairro e o Grupo Folclórico da Pedralva; e a ADABEM Art’Z Dance dos Dadores Benévolos de Sangue de Mogofores convida ART’Z Dance Studio de Vagos.

    A FVV encerra com a atuação das Marchas Populares de Anadia que, este ano estão novamente de regresso ao certame. Oito marchas, duas de crianças, irão desfilar pelas ruas da cidade, entre o Pavilhão Desportivo de Anadia e o recinto do Vale Santo. O certame termina com um grandioso fogo de artíficio.

    Produtores vinícolas, tasquinhas, restaurantes, expositores e animação infantil são outros dos atrativos da Feira da Vinha e do Vinho que tem como intuito dar a conhecer aos visitantes o que de melhor se faz no concelho nas várias áreas da economia local, com especial incidência para a enogastronomia, turismo, saúde e bem-estar. À semelhança das edições anteriores, o certame terá o selo de Eco-Evento, contribuindo assim para a sustentabilidade ambiental.

    As entradas no recinto têm um custo diário de 3,00€, à exceção do último dia (domingo) em que a entrada é gratuita. O bilhete geral custa 10,00€. Os portadores dos cartões Anadia Jovem e Sénior têm um desconto de 50%. Os ingressos já se encontram à venda, podendo ser adquiridos no edifício da Câmara Municipal de Anadia, no Posto de Turismo da Curia, na Biblioteca Municipal de Anadia, nas Piscinas Municipais de Anadia e no Museu do Vinho Bairrada e online em www.bol.pt.

    CARTAZ DE ANIMAÇÃO

    Dia 18 – Nininho Vaz Maia

    Dia 19 – Sara Correia

    Dia 20 – MC Daniel | Dupla Mete Cá Sets

    Dia 21 – Morcheeba | Cromos da Noite

    Dia 22 – Cocomelon e Bluey (mini-shows infantis) | Marchas Populares de Anadia

    Evento (IM)PACTO assinala o lançamento oficial do AVEIRO IMPACT HUB

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    O AVEIRO IMPACT HUB é o novo Centro para o Empreendedorismo de Impacto da região de Aveiro que apoia ideias transformadoras, estruturado em três eixos principais: incubação, aceleração e capacitação.

    O evento terá lugar no próximo dia 17 de junho de 2025, no Centro de Artes de Águeda, entre as 10h00 e as 18h00, e contará com três painéis temáticos que reunirão especialistas, entidades financiadoras, agentes do território, projetos de referência nas áreas da inovação social e das boas práticas em empreendedorismo de impacto

    O primeiro painel, “(IM)PACTO | Inovar com Propósito”, abordará as mais recentes abordagens de inovação social e empreendedorismo, explorando casos de sucesso e as ferramentas que permitem conceber soluções diferenciadoras.

    Segue-se o painel “(IM)PACTO | Inovação em Ação”, dedicado à partilha de boas práticas e exemplos concretos de projetos, soluções e iniciativas que já estão a gerar impacto na sociedade.

    Por fim, o terceiro painel, “(IM)PACTO | Da Ideia à Oportunidade”, que se focará nos mecanismos de financiamento e candidaturas, oferecendo aos presentes informação prática sobre como transformar as suas ideias em iniciativas sustentáveis.  

    O evento oferecerá ainda momentos de networking, em que técnicos municipais, associações da economia social, entidades de financiamento e empreendedores partilharão experiências e perspetivas, criando ligações essenciais para a concretização de

    ideias. A entrada é gratuita, sendo apenas necessária a inscrição prévia por formulário.

    Formulário para inscrição no evento: https://forms.gle/F5qGNKaSSaScpNA99

    6.º Monte CUP regressa ao Eixo com mais de 1200 atletas

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    O Grupo Desportivo Eixense volta a organizar o seu tradicional torneio de final de época, o Monte Cup, que vai já na sua 6.ª edição, prometendo mais uma vez quatro dias repletos de desporto, convívio e fair-play.

    O 6.º Monte Cup realiza-se nos dias 14, 15, 21 e 22 de junho, no Complexo Desportivo do Monte, em Eixo, Aveiro, contando com a participação de 60 equipas provenientes de clubes de todo o país.

    Este evento desportivo tem como principal objetivo promover a prática do futebol jovem, proporcionar momentos de animação e ocupação saudável dos tempos livres, bem como fomentar o espírito de equipa e o convívio entre atletas, treinadores, dirigentes e famílias.

    A distribuição dos jogos por dia será a seguinte:

    • 14 de junho: Infantis A (Sub-13), Infantis B (Sub-12) e Benjamins B (Sub-10)
    • 15 de junho: Feminino Sub-17, Benjamins A (Sub-11) e Traquinas A (Sub-9)
    • 21 de junho: Juvenis (Sub-17) e Traquinas B (Sub-8)
    • 22 de junho: Iniciados (Sub-15) e Petizes (Sub-7)

    Ao longo dos quatro dias de torneio, são esperados cerca de 1.200 atletas, 200 dirigentes e treinadores, bem como centenas de familiares e adeptos, tornando o Complexo Desportivo do Monte num verdadeiro palco de celebração do futebol jovem.

    O Grupo Desportivo Eixense convida toda a comunidade a juntar-se a esta festa do desporto, apoiando os jovens talentos e partilhando o espírito de fair-play que caracteriza o Monte Cup.

    Prova da Formação/Cadetes do GALITOS/BRESIMAR

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    Com a presença de 172 atletas em representação de 14 clubes, este terceiro Torneio Mini- Cadetes (Formação/Cadetes B) foi organizado no passado dia 10, pela ANCNP com a colaboração do Município de Estarreja e clube local, na sua Piscina Municipal.

    Os atletas participantes sendo muito jovens (8-11 anos), portaram-se á altura fazendo desta prova (para alguns a sua primeira prova oficial) uma autêntica festa da natação.

    Estes torneios servem para isso mesmo, que os atletas tenham as suas primeiras experiências competitivas num clima de festa e adquiram os hábitos técnicos da competição de uma forma agradável para não haver más experiências que os traumatizem para o futuro, sendo o menos importante o tempo ou a classificação alcançada.

    O Galitos/Bresimar participou com 24 atletas demonstrando o bom trabalho efetuado na sua formação:

    – Tiago Araújo, Francisca Arede, Xavier Barbosa, Rita Brandão, Laura Cancela, Bernardo Costa, Sven França, Daniel Ivanov, Daniela Mansilha, Luz Moutela, Maria Moutela, Salvador Nunes, Alice Oliveira, Helena Oliveira, Maria Inês Oliveira, André Pimenta, Alexandre Pinho, Miguel Rebola, Salvador Rodrigues, Matilde Santos, Inês Silva, Frederico Simões, Maria Sousa e Mara Veloso.

    -Técnicos: Nuno Pascoal e André Brito.

    -Delegado: João Paulo Rodrigues.

    https://ancnp.pt/Resultados/Natacao_Pura/24-25/22_Festival_MINI_Cadetes_2_Estarreja

    José Luís Martins Pereira em grande entrevista ao Aveiro TV – Uma história de vida

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    Uma entrevista única e irrepetível. José Luís Martins Pereira, Zé Lú para os amigos, recebeu-nos na sede do GEMDA, e durante mais de uma hora conversámos sobre uma vida muito preenchida, sobre os seus amores, as suas desilusões, os seus projetos e essencialmente o futuro.

    Garante que ainda há muito a fazer e estar e envolvido em tantas atividades dá-lhe energia e vontade de fazer cada vez mais e melhor. Mostra-se um pouco desiludo com o rumo que a cultura tem seguido e sugere mesmo que a câmara deva ter um órgão externo de consulta nesta área, para poderem ter sempre as melhores opiniões de quem por aqui anda e que conhece bem o terreno cultural da cidade.

    Reformados da PSP reuniram-se no Ipiranga no dia 7 de junho para o habitual almoço

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    Mais de 100 pessoas estiveram reunidas, no restaurante Ipiranga, no dia 7 de junho, para mais um almoço de confraternização.

    João Lopes já organiza este almoço há mais de 10 anos e sente que ainda tem força e vontade para o continuar a promover, embora garante que dá muito trabalho, mas com boa vontade tudo se consegue.

    A 9 de Junho de 1672 há 353 anos nascia Pedro o Grande Czar da Rússia

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    Comparações à parte…no fim do século XVII, a dinastia dos Romanov deu à Rússia um czar tão poderoso quanto Ivan, o Terrível, mas sem o seu espírito destruidor. Era Pedro, o Grande, o pai da Rússia moderna. De infância difícil, como Ivan, assistiu a uma luta pelo poder seguida de mortes nos corredores do Kremlin, quando o seu pai morreu. Obrigando-o a refugiar-se nos arredores de Moscovo na sua maioridade, pois Sofia, sua irmã mais velha e tutora, não lhe passou o ceptro, ambicionava ser czarina.

    Ao percorrer o campo, aproveitou o seu tempo livre observando e adquirindo conhecimentos práticos, como construir uma casa em alvenaria, consertar sapatos, extrair dentes cariados e mesmo fundir um canhão.

    Medindo mais de 2 metros, Pedro tornou-se um verdadeiro gigante provido de uma força lendária ao dobrar pesados pratos de prata e abater árvores a machadadas em segundos. O seu apetite era imenso, em refeições sem cerimônias na companhia de artistas ingleses, escoceses, suíços, dinamarqueses, que viviam em Moscovo. Foi o maior incentivador da vodca ao organizar campeonatos, bebia 3 litros de uma só vez.

    Ao aperceber-se que a Rússia era socialmente e tecnicamente atrasada, resolveu abrir uma janela para o Ocidente, já como czar, a fim de dotar o país de ideias europeias de progresso. Não sem antes recolher a irmã Sofia aos costumes no Convento das Carmelitas. Empreendeu um périplo de 18 meses pela Europa, em que se fez passar por marinheiro e trabalhar como carpinteiro num estaleiro da Holanda, aprendeu a retalhar a gordura da baleia, estudou anatomia e cirurgia observando dissecação de cadáveres, visitou museus e galerias de arte.

    Ao surgirem notícias de que inimigos das novas ideias queriam depô-lo, retornou com a revolta já subjugada, o que não foi suficiente para conter a sua fúria. Fez queimar em praça pública todos os prisioneiros, um por um, e, na aproximação da morte, cortava-lhes a cabeça para expô-las e dar exemplo. O que não impediu de começar simbolicamente o processo de modernização do país ao ordenar a todos os homens que desbastassem o comprimento da barba, com as suas próprias mãos cortava a barba dos nobres da corte. Os longos hábitos dos homens deveriam dar lugar aos sobretudos e as damas abandonar os véus para comparecer nas receções com vestidos justos e bem decotados, como se usava em França. Os filhos da aristocracia seriam confiados a governantas que os familiarizariam com o francês e o alemão.

    Buscou nos Urais, na riqueza dos seus recursos naturais, o tesouro de pedras preciosas que ergueria seu império à altura de um reino burguês distanciado do rústico que imperava na corte, do ortodoxamente rudimentar. Às novas terras conquistadas, crescia o interesse na demanda por joias e na acumulação que reluzia o esplendor das monarquias absolutistas dos anos 1500 a 1700, quando a exploração atingiu o seu ápice.

    Facilitou a construção de fábricas e escolas para ensinar matemática, navegação, astronomia, medicina, geografia, filosofia e política. Lançou o primeiro jornal russo. Imprimiu 600 obras e construiu um teatro em Moscovo, ainda de pé na Praça Vermelha. A convicção dele era a de que o mal resultava da ignorância, o conhecimento possuía um efeito libertador ao forjar uma nova alma, sem desconfiar que contribuía decisivamente para o início de formação de consciências críticas que marcaram a Rússia na revolta contra a injustiça e a opressão.

    Em 1709, os suecos, que vinham de invadir a Polónia e a Saxónia, voltaram à carga visando a Ucrânia, quando, em Poltava, se desenrolou uma das batalhas mais decisivas da história da Rússia. Aliada aos saxões, polacos e dinamarqueses, afastou o perigo de uma dominação sueca sobre a Europa do Norte e territórios bálticos para sempre. A vitória permitiu a conquista da janela sobre o Ocidente, o Báltico assegurava uma via de comunicação utilizável durante todo o ano com o resto da Europa. Pedro já havia começado a construir um porto ao qual se devia dar o nome de seu santo padroeiro, portanto, o seu. Foi chamado de São Petersburgo.

    São Petersburgo nasceu de um sonho extravagante de Pedro, o Grande, fazendo-a cultivar um ar de superioridade sobre a sua grande irmã, Moscovo.

    O lugar escolhido parecia ser pior do que se podia imaginar, um pântano na desembocadura do Neva, lá onde o rio alcança o golfo da Finlândia. Pedro mandou vir da França e da Itália inúmeros arquitetos e artistas para construir uma cidade. Com a maior urgência, ela cresceu sobre as ossadas de milhares de servos, de prisioneiros de guerra, recrutas requisitados do exército, tantas foram as mortes por causa do árduo trabalho em cavar canais e secar pântanos para fixar as fundações.

    Ao fim de 9 anos, ergueram-se 25 mil casas, Pedro, o Grande, tornou-a capital da Rússia. Com uma rede de canais como os de Amsterdão e grandes avenidas arborizadas, a altura das casas variava segundo a classe social dos seus ocupantes. Um andar com quatro janelas e uma claraboia, para os comuns, e dois níveis com sacada, para os ricos comerciantes.

    Com o intuito de se vingar das ameaças sofridas na puberdade em Moscovo, e tomado por um maligno prazer, removeu a corte real em 1712 para os pântanos ainda fétidos de São Petersburgo. Deveriam abandonar os castelos moscovitas medievais para construir novas mansões, segundo as estritas diretivas arquitetónicas do czar, que redesenhava projetos, supervisionava material de construção e adequação de estátuas e plantas. A ordem era de povoar a cidade com milhares de servos dos seus domínios.

    Considerando que Moscovo era o centro nevrálgico da Igreja Ortodoxa, Pedro aproveita o ensejo para desvincular a Igreja do Estado. Constrói a catedral de São Pedro e São Paulo, ao melhor estilo católico, projetadas por arquitetos italianos, e dá largos passos na aproximação às ideias do Ocidente.

    O Imperador de todas as Russas, seu novo cognome em 1721, procurou rivalizar com Versalhes ao erigir o palácio de verão Peterhof – denominação alemã alterada em 1944 para Petrodvorets -, com magníficos jardins e chafarizes que permitiam satisfazer a sua atração por brincadeiras: os esguichos jorravam repentinamente e molhavam os distraídos enredados em filosofia ou intrigas. Receções e bailes de máscaras prenunciavam o ingresso da licenciosidade e costumes escandalosos para padrões ortodoxos, já que Moscovo apenas celebrava um número restrito de austeras festas religiosas.

    Foi em Peterhof que o czar teve uma desavença tempestuosa com o seu único filho, nascido do seu primeiro casamento com uma mulher que nunca amou e que ele encerrou, por fim, num convento. A sua segunda mulher, com a qual viveu 23 anos, era uma camponesa analfabeta, amante de um oficial, que lhe deu 12 filhos, dos quais somente 2 filhas sobreviveram. Alexis, o herdeiro do trono, converteu-se num instrumento nas mãos de conservadores que urdiam a deposição de Pedro e da capital.

    Ao responder de forma evasiva a questões que envolviam o poder, o czar acusou o seu filho de conspiração e o herdeiro foi feito prisioneiro para obrigá-lo a entregar a sua alma. Pedro morreu sem designar sucessor em 1725, em consequência de doença contraída no mergulho nas águas geladas do golfo da Finlândia para socorrer pescadores .

    Pedro faria com que a Rússia deixasse de olhar para o seu umbigo e se permitisse tirar proveito de novas influências que arejassem a essência da sua alma. Simplificou o alfabeto russo e aumentou a possibilidade de aprender, permitida pela leitura mais fácil. Ao imprimir livros e jornais, retirou a Rússia do atraso em termos de alfabetização.

    Fecundo o fruto dos seus esforços de modernização em inúmeros campos, contudo, também causaram uma rutura social. A uma nobreza europeizada opunham-se camponeses e o clero que resistiam de todas as maneiras a mudanças. O fosso iria aumentar meio século mais tarde sob o reino de uma czarina, Catarina, a Grande. Aqui chegado, Vladimir Putin tem ambições de grandeza imperial de outros tempos, e para lá chegar escolheu o caminho mais terrífico e tumultuoso como sucede a todos os ditadores da história humana. Ficará nessa mesma história, a par de Ivan “O terrível” como um dos maiores destruidores da vida humana, um dos mais terríficos e desumanos assassinos da humanidade, será lembrado pelos piores motivos, aquilo que de mais execrável contém a raça humana!

    Dia de Portugal – Um Canto Renascido

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    10 de Junho de 1580 – Luís de Camões parte, levando consigo o último suspiro de um Portugal dourado.

    De celebração em celebração, embrulhamos a alma da pátria em folhas de jornal, como sardinhas de feira popular. Queimamos incenso sobre o corpo ainda quente da nação, enquanto ela, entre golfadas de fumo e discursos vazios, agoniza em festa.

    Camões, o trovador do destino lusitano, cantou-nos quando éramos aurora. Nas páginas d’Os Lusíadas, o sangue dos heróis ainda corre, mas secou nas veias dos que nos têm governado. O sol da ideologia queimou as cores da nossa bandeira, e as revoluções, como vagas traiçoeiras, arrastaram para o abismo o que nos restava de identidade.

    Dizem que, ao morrer o poeta, morreu Portugal. Talvez. Mas a terra não sepultou a semente. A classe política, sim, é cadáver – um fantasma que vagueia pelos corredores do poder, surdo ao ritmo do povo, cego à chama que ainda bruxuleia nas cinzas. “Fraco torna fraca a forte gente…” E nós, filhos de uma escrava e de revoluções alheias, deixámos que nos vendassem com os trapos da Libertas, da Agar, de todas as quimeras que nos roubaram o rosto.

    Mas Portugal não morre apesar de muitas loucuras ideológicas e nos últimos tempos dos interesses do deus Mamon de Bruxelas que suborna os humanos para obter suas almas. Não morre enquanto respirar fé e coragem, enquanto lembrar que foi à sombra da cruz e da espada que conquistámos o mundo. Pátria e fé eram uma só carne, um só destino. Hoje, porém, perdemos o povo no labirinto das ideologias, e sem ele, a pátria é apenas um nome esvaziado, um barco à deriva sob o voo circular dos abutres.

    Agora, a missão é outra: não basta restaurar – é preciso redescobrir. Os Homens-Bons de hoje não partirão em caravelas, mas em busca da própria alma. Terão de navegar “mares nunca dantes navegados”, não de água salgada, mas de consciência. A Taprobana a vencer já não é a distância, mas o materialismo que nos engoliu, o Estado que nos devora, a religião que se esqueceu de rezar.

    Teremos de ousar, como os “egrégios avós”, mas sem infantes que nos guiem. A bússola será a dor, o desespero de uma terra que já não nos reconhece. E quando acordarmos, talvez descubramos que a verdadeira liberdade não tem fronteiras – é como o mar, que não sabe onde começa nem onde termina.

    Então, Portugal não será apenas um lugar no mapa, mas um verbo: criar. Já não conquistaremos terras, mas relações; já não levantaremos impérios, mas consciências. E quando o céu se rasgar por fim, não serão canhões que ecoarão, mas as cores do arco-íris, derramando-se sobre nós como uma nova aliança.

    Até lá, seguimos. Entre a névoa e o sonho, entre os Velhos do Restelo e os loucos que ainda acreditam. Porque um povo que já foi mar não pode viver eternamente de joelhos.

    Viva um Portugal que se redescubra à luz do bem e da verdade e se empenhe na construção de uma cultura da paz e abandone a cultura da guerra!

    “Portugal pode — e deve — adotar crianças esquecidas”

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    Vivemos num tempo em que a compaixão se esgota depressa. O ciclo noticioso avança, a indignação arrefece, mas a dor de quem sofre continua. Entre os maiores esquecidos estão milhares de crianças órfãs ou deslocadas em zonas de guerra ou catástrofe — na Faixa de Gaza, na Síria, no Sudão, no Congo, em campos de refugiados no Líbano e até em ilhas gregas. São crianças sem Estado, sem escola, sem família. Muitas foram feridas por bombas. Outras perderam os pais em travessias pelo Mediterrâneo. Muitas foram vítimas de redes de tráfico. E continuam, ano após ano, à espera.

    Portugal é generoso na retórica, mas tímido na prática. Somos signatários da Convenção dos Direitos da Criança (1989), da Convenção de Haia sobre adoções internacionais (1993) e fazemos parte da UNICEF, mas não temos um programa nacional ativo e consistente de adoção internacional humanitária. Enquanto países como o Canadá, a Noruega, a França ou os Países Baixos mantêm acordos com entidades multilaterais para acolhimento excecional de crianças refugiadas ou órfãs — mesmo fora dos trâmites convencionais da adoção —, Portugal limita-se a casos esporádicos, complexos e muitas vezes travados pela teia burocrática.

    Tudo isto acontece enquanto vivemos uma vertigem demográfica. Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa, com uma taxa de fecundidade abaixo do limiar de renovação há décadas. A população ativa diminui, o interior esvazia-se e os lares perdem as vozes das crianças. Se nada for feito, não só enfrentaremos um problema económico — enfrentaremos um vazio civilizacional. Um programa de adoção internacional humanitária, bem regulado e juridicamente sólido, pode ser uma resposta digna a ambas as realidades: salvar crianças e revitalizar comunidades.

    Mais ainda, num tempo em que a extrema-direita cresce alimentada pelo medo do “outro”, pelo discurso do ódio e pela instrumentalização da diferença racial, uma política pública que acolha, integre e humanize é também um antídoto político. A convivência começa na infância. O preconceito desfaz-se no berço. E um país que decide adotar, com responsabilidade e humanidade, afirma-se como pátria — não apenas de quem nasce nela, mas de quem nela encontra refúgio e futuro.

    Deveria ser criada, por via legislativa, uma estrutura nacional de adoção humanitária internacional, com os seguintes objetivos: identificar zonas prioritárias, em coordenação com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, a UNICEF e organizações católicas ou laicas presentes no terreno; simplificar o regime de adoção internacional, com garantias éticas e jurídicas, respeitando o interesse superior da criança — mas sem submeter os candidatos a processos kafkianos; apoiar as famílias portuguesas dispostas a adotar, com incentivos fiscais, acompanhamento psicológico e apoio na integração cultural da criança; criar uma bolsa pública de crianças elegíveis para acolhimento em Portugal, com autorização judicial e diplomática; e priorizar menores de idade que se encontrem em campos de refugiados e zonas de guerra, órfãos confirmados e sem possibilidade de regresso ao seu país.

    Os argumentos do costume virão: “e os portugueses que ainda estão à espera de adoção?”, “e se as crianças forem usadas por redes?”, “e se depois querem voltar?”. A verdade é esta: uma coisa não exclui a outra. Podemos reforçar os mecanismos de proteção de menores nacionais e, em simultâneo, salvar vidas concretas de crianças que enfrentam a morte ou o abandono absoluto. E podemos fazê-lo com rigor, com justiça e com dignidade.

    A neutralidade institucional é, neste caso, cumplicidade. Cada dia que passa sem resposta é mais uma infância perdida. É mais um ser humano que cresce sem colo, sem segurança e sem futuro. Como dizia Santo Agostinho, “a esperança tem duas filhas: a indignação e a coragem”. Já temos a indignação. Falta a coragem. Portugal pode — e deve — estar do lado da vida.

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