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    Exposição da História dos Ovos Moles de Aveiro

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    História dos Ovos Moles de Aveiro
    História dos Ovos Moles de Aveiro

    A Burguezia do Leitão em parceria com a Confraria dos Ovos Moles de Aveiro promovem a Exposição “História dos Ovos Moles de Aveiro”, que pode ser visitada neste empreendimento de forma gratuita e livre até ao final do mês de Novembro de 2025.

    Nesta Exposição será possível descobrir a origem e o método de fabrico tradicional deste produto, de origem e proveniência certificadas, e conhecer o papel desta Confraria na preservação e promoção deste doce tão icónico da Região de Aveiro. 

    Do juramente ao traje, da canastra à barrica, cada peça revela um pedaço da história e da paixão que envolvem esta doçaria única.

    A farinheira, o disfarce saboroso dos judeus portugueses do Séc. XVI

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    A farinheira, o disfarce saboroso dos judeus portugueses do Séc. XVI
    A farinheira, o disfarce saboroso dos judeus portugueses do Séc. XVI

    Há alimentos que escondem histórias. A farinheira, esse enchido alentejano de cor âmbar e sabor adocicado, é uma das mais engenhosas criações da mesa portuguesa e, ao mesmo tempo, um testemunho silencioso da astúcia de um povo perseguido. Por trás da sua aparência inocente, feita de pão, gordura e especiarias, esconde-se o medo ancestral da Inquisição e a necessidade de sobreviver disfarçando a fé.

    No século XVI, quando o fogo da intolerância varria Portugal, os judeus convertidos, os chamados cristãos-novos, sabiam que bastava um olhar sobre o fumeiro para uma denúncia nascer. A carne de porco era o símbolo do bom cristão. Quem não a comia, quem não a pendurava no varal das cozinhas, arriscava a fogueira. A solução foi tão simples quanto genial: criar um enchido que parecesse de porco, mas não o fosse.

    Assim nasceu a farinheira, mistura de pão, azeite, farinha, alho e colorau, cuja cor alaranjada imitava a do chouriço. À distância, quem olhasse para a lareira veria fumeiros iguais aos dos vizinhos. Era o disfarce perfeito. Por dentro, porém, não havia sangue nem carne, apenas o engenho de uma comunidade que, privada da sua fé pública, fez da cozinha um território de resistência.

    As regiões do Alentejo, Beira Interior e Trás-os-Montes foram as que mais conservaram essa tradição. Nas vilas de Castelo de Vide, Marvão, Belmonte e Trancoso, onde as judiarias deixaram marcas visíveis, a farinheira tornou-se presença habitual nas feiras e nas mesas. Era o símbolo da integração aparente e da fé escondida. Cada casa, cada fumeiro, repetia o gesto da sobrevivência.

    Com o tempo, o segredo perdeu-se e o paladar ficou. O que começou como subterfúgio tornou-se tradição, passando da necessidade à identidade. Hoje, quando a farinheira repousa sobre o prato, grelhada, frita ou sobre o ovo escalfado de um bacalhau à Brás reinventado, poucos recordam a sua origem de silêncio e medo.

    Mas talvez devêssemos lembrar. Porque cada fatia de farinheira é também um fragmento da história dos cristãos-novos, daqueles que disfarçaram o seu destino dentro de uma tripa de farinha. E se a cozinha é, como dizia Eça, a mais sincera forma de poesia popular, então a farinheira é o poema mais engenhoso que a perseguição inquisitorial inspirou em Portugal.

    Sangalhos recebe prova nacional de Esgrima

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    Sangalhos recebe prova nacional de Esgrima
    Sangalhos recebe prova nacional de Esgrima

    O Centro de Alto Rendimento (CAR) de Anadia, em Sangalhos, recebe no próximo fim de semana, 18 e 19 de outubro, mais uma competição de Esgrima, o Circuito Nacional de Juvenis em Espada, Florete e Sabre.

    A competição conta com 191 atletas inscritos, em representação de 20 equipas. No sábado as provas têm início às 9h00, decorrendo durante todo o dia. No domingo, realizam-se durante a manhã, entre as 9h00 e as 14h00.

    O evento, organizado pela Federação Portuguesa de Esgrima, com o apoio do Instituto Português do Desporto e da Juventude e do Município de Anadia, marca o arranque da época de Esgrima 2025-2026.

    Loja online do Museu Marítimo de Ílhavo já está disponível

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    ilhavo loja online
    ilhavo loja online

    O Museu Marítimo de Ílhavo acaba de lançar a sua nova loja online, um espaço digital renovado que valoriza o artesanato local, a produção editorial especializada em temática marítima e uma variedade de artigos inspirados nas coleções do Museu.

    A nova plataforma, disponível em lojamuseumaritimo.cm-ilhavo.pt, surge como extensão das lojas físicas do Museu Marítimo de Ílhavo e do Município de Ílhavo, reunindo uma oferta diversificada que inclui cerâmica, artesanato local, produtos gastronómicos, artigos de papelaria, vestuário e acessórios.

    Entre as principais novidades, destacam-se as publicações dedicadas ao mar e à cultura marítima, com títulos dirigidos a públicos de todas as idades, incluindo livros infantojuvenis. A loja apresenta ainda uma linha de produtos de merchandising inspirada na história e memória da pesca do bacalhau, símbolo identitário do território e da comunidade ilhavense.

    Com esta renovação, o Museu Marítimo de Ílhavo reforça a sua presença digital, permitindo que qualquer pessoa possa adquirir produtos de forma simples e segura, em qualquer momento e a partir de qualquer lugar do mundo. A nova loja online pretende, assim, democratizar o acesso aos produtos do Museu e do Município de Ílhavo, promovendo e divulgando a cultura marítima nacional à escala global.

    Aveiro Tech Week encerra com balanço muito positivo

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    Aveiro Tech Week encerra com balanço muito positivo
    Aveiro Tech Week encerra com balanço muito positivo

    A edição de 2025 da Aveiro Tech Week terminou com balanço positivo, confirmando a consolidação de Aveiro como cidade de referência na integração entre tecnologia, inovação e cultura. Organizada pela Câmara Municipal de Aveiro (CMA), a iniciativa decorreu de 6 a 12 de outubro e contou com milhares de participantes em dezenas de atividades abertas à comunidade, reforçando o envolvimento da cidade com as áreas tecnológicas e criativas.

    O Techdays Aveiro voltou a reunir especialistas nacionais e internacionais em torno de temas como microeletrónica, cibersegurança, comunicações quânticas e defesa, promovendo o debate sobre o futuro digital e o papel das cidades na inovação. A área de gaming, instalada no Aveiro Parquexpo, registou também forte participação, com torneios, demonstrações e a presença de influenciadores e criadores de conteúdos, evidenciando o crescente interesse deste setor entre o público mais jovem. Nas escolas, as iniciativas educativas e STEAM voltaram a destacar-se pelo envolvimento de alunos e professores, num contributo direto para a literacia tecnológica e científica do concelho.

    O Festival PRISMA / Art Light Tech, organizado pela CMA sob a coordenação da sua equipa do Teatro Aveirense, encerrou a semana com quatro dias de programação que integraram 20 instalações de artistas de nove países, sob o tema “A Forma das Coisas”. José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, destacou “a elevada qualidade do evento devidamente retribuída por uma forte participação do público”, sublinhando a importância da iniciativa para a valorização cultural da Cidade dos Canais. Já José Pina, programador do festival, afirmou que “o balanço foi muito positivo, com o público a responder de forma entusiasta a um conjunto de obras que convidaram à redescoberta do espaço urbano”.

    A Câmara Municipal de Aveiro dá continuidade ao projeto de iluminação de Natal 

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    Iluminações de Natal 2025
    Iluminações de Natal 2025

    A Câmara Municipal de Aveiro (CMA) dá continuidade ao projeto de iluminação de Natal concebido no âmbito do concurso de conceção lançado para o período 2023-2025, que desafiou o setor a desenvolver uma proposta inspirada na identidade aveirense.

    A proposta vencedora, da empresa Carvalho Iluminações (Viseu), apresenta um conceito que valoriza o Património Cultural de Aveiro, a sustentabilidade, a inovação e a tecnologia. O projeto evoca elementos simbólicos da cidade e da região — os Ovos Moles, os Moliceiros, a Ria e os Pescadores, o Sal, os Marnotos e as Salineiras, e a Natureza — numa criação que reflete a autenticidade e o espírito únicos de Aveiro.

    Em 2025, o investimento municipal na iluminação natalícia é de 150 mil euros. Como habitualmente, será instalada a Grande Árvore de Natal no Cais da Fonte Nova, bem como iluminações em vários pontos da cidade e das povoações que são sede de Freguesia do Concelho.

    Com o azul como cor predominante, a Iluminação de Natal de 2025 pretende valorizar o espaço público e a identidade local, num ambiente onde a tradição e a expressão contemporânea se cruzam, dando origem a uma verdadeira sinfonia de luz e arte.

    Locais e Motivos da Iluminação de Natal

    Nas ruas da Cidade, os Moliceiros são reinterpretados com motivos Arte Nova, integrando elementos da Ria — algas, peixes e crustáceos — combinados com mensagens de Boas Festas inspiradas nas formas ornamentais do Museu de Aveiro / Arte Nova.

    Ao longo do Canal Central, os motivos seguem a estética Arte Nova, destacando os movimentos curvilíneos, as referências à natureza, à fauna e flora, à harmonia e à beleza.

    Rossio voltará a receber uma Estrela gigante, enquanto a Avenida Dr. Lourenço Peixinho terá um teto de luzes com 800 metros, representando o céu estrelado de Aveiro.

    No Bairro da Beira-Mar, a iluminação presta homenagem aos pescadores, com predominância do azul do mar e do amarelo das estrelas, evocando a ligação entre o mar e o céu — o universo simbólico das casas dos pescadores.

    Nas ruas adjacentes à Avenida Dr. Lourenço Peixinho, os moliceiros, os marnotos e a vara que os conduz pela Ria são representados de forma artística e invertida.

    Na Praça Marquês de Pombal será instalado um Presente de Natal, enquanto a Rua Direita e a Rua Belém do Pará recebem decorações inspiradas na calçada de Jorge Pinheiro, cujos círculos ganham vida sob o espírito natalício.

    Os presépios do Museu de Aveiro / Santa Joana e da Praça da República seguirão igualmente a linha temática de um Natal Arte Nova.

    Na zona verde entre a  e a Rotunda do Hospital, o destaque recai sobre os animais presentes nas fachadas Arte Nova de Aveiro, que “saltam” simbolicamente para a rua a partir do Presente de Natal, convidando os visitantes a redescobrirem a cidade e os seus detalhes arquitetónicos.

    As pontes pedonais que atravessam os canais e os centros de todas as povoações sedes de Freguesia e de Uniões de Freguesia do Município de Aveiro serão também iluminados, reforçando a unidade e o espírito comunitário que caracteriza o Natal em Aveiro.

    Os Centros Cívicos de Aradas, Cacia, Esgueira, Eixo, Nossa Senhora de Fátima, Oliveirinha, Santa Joana, São Bernardo e São Jacinto terão igualmente elementos decorativos alusivos à quadra natalícia, reforçando a identidade e o sentimento de pertença em todo o território municipal.

    O Corisco d’Aveiro está de malas prontas para representar Portugal em Riva del Garda

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    corisco de Aveiro
    corisco de Aveiro

    O Corisco d’Aveiro, coro integrante da Associação Cultural SOMAVOZES, está de malas prontas para participar no Festival Internacional de Coros de Riva del Garda (In Canto sul Garda), que se realiza de 17 a 21 de outubro de 2025, no norte da Itália.

    O festival, promovido pela Meeting Music, reúne grupos de diversos países (Finlândia, Austrália, Indonésia, Bulgária, Romênia, para citar alguns) para partilhar experiências, repertórios e culturas. Nesta edição, o Corisco d’Aveiro será o único coro de língua portuguesa em palco, levando Aveiro e Portugal a um evento que celebra o diálogo e a diversidade através da música.

    Sob a direção artística da maestra Patricia Costa, o Corisco d’Aveiro apresentará um programa que percorre as expressões musicais da lusofonia, com destaque para cantigas tradicionais portuguesas, música popular brasileira e obras de países africanos de língua portuguesa. O repertório traduz a energia, o ritmo e a pluralidade que definem o universo cultural lusófono.

    Corisco de Aveiro na sessão de fotos
    Corisco de Aveiro na sessão de fotos

    “Levar o Corisco d’Aveiro a Riva del Garda é uma forma de mostrar a língua portuguesa de todos os cantos, como expressão da identidade cultural lusófona”, afirma Patricia Costa, regente do Corisco d’Aveiro.

    O grupo realiza os seus ensaios regulares na Oficina de Música de Aveiro, espaço parceiro da SOMAVOZES dedicado à formação e à criação artística.

    A participação no festival integra o Plano Estratégico 2025–2030 da Associação Cultural SOMAVOZES, que aposta na internacionalização dos seus coros e no fortalecimento das redes culturais entre Portugal e o mundo lusófono.

    Evento: Festival Internacional de Coros – In Canto sul Garda
    Datas: 17 a 21 de outubro de 2025
    Local: Riva del Garda, Itália
    Participação portuguesa: Corisco d’Aveiro (Associação Cultural SOMAVOZES)

    Contactos

    Associação Cultural SOMAVOZES
    E-mail: [email protected]

    Instagram / Facebook: @coriscodaveiro
    @pccantocoral
    📍 Aveiro, Portugal

    Skope – Museu de Medicina e Saúde celebra 1.º aniversário

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    Museu de Medicina e Saúde celebra 1.º aniversário
    Museu de Medicina e Saúde celebra 1.º aniversário

    O Skope – Museu de Medicina e Saúde celebra o seu 1.º aniversário no próximo sábado, 18 de outubro, com um conjunto de atividades aberto a toda a comunidade, pensado para crianças, famílias, amigos e curiosos.

    Ao longo do dia, os visitantes poderão participar em visitas guiadas, desafios em família e numa leitura encenada, que os convida a mergulhar na história da medicina e da saúde.

    📅 Programa – 18 de outubro
    🕚 11h00 – Visita Guiada
    🕦 11h30 – Peddy Paper em Família (para os mais novos)
    🕛 12h00 – Visita Guiada
    📚 15h00 – História da Medicina no Museu (atividade para os mais novos) com o médico e autor Dr. Manuel Mendes Silva
    🕓 16h00 – Visita Guiada

    📌 A participação nas atividades requer inscrição prévia, e os visitantes serão nossos convidados nesta celebração especial.

    Sobre o Skope – Museu de Medicina e Saúde

    Inaugurado a 17 de outubro de 2024, o Skope – Museu de Medicina e Saúde é um museu privado criado a partir da coleção de um médico e colecionador português, natural de Aveiro. O espaço combina a tradição de uma casa do século XIX ao estilo “brasileiro de torna-viagem” com a modernidade de uma museografia interativa e áreas ajardinadas que convidam à visita e à descoberta.

    O museu tem como missão promover o conhecimento sobre o património histórico da medicina e educar para a saúde, incentivando indivíduos, famílias e comunidades a adotarem comportamentos mais saudáveis e sustentáveis. O percurso expositivo percorre as grandes etapas da história da medicina — da Antiguidade à atualidade — e inclui ainda uma área dedicada à medicina do futuro e aos estilos de vida saudáveis, com experiências digitais e interativas.

    Sobre a Fundação Casa Hermes

    O Skope – Museu de Medicina e Saúde é um projeto da Fundação Casa Hermes, reconhecida em 2022 para dar continuidade ao legado da antiga Casa-Museu Dr. Hermes, museu particular de medicina em Aveiro. A Fundação tem como propósito educar para a saúde, promover a literacia científica e valorizar o património médico e cultural, contribuindo ativamente para o bem-estar e a saúde da comunidade.

    O dia em que Lisboa enganou Hitler

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    O dia em que Lisboa enganou Hitler
    O dia em que Lisboa enganou Hitler

    Lisboa na primavera de 1944 era um palco onde a neutralidade oficial escondia um turbilhão de segredos, encontros clandestinos e jogos de inteligência que podiam mudar o rumo da guerra. As ruas da Baixa fervilhavam com diplomatas, espiões, refugiados e agentes de várias nacionalidades, todos movimentando-se em silêncio numa cidade que, embora distante do conflito direto, se tornou um dos centros neurálgicos do maior conflito do século XX.

    No meio desse cenário, um homem magro, de bigode fino, parecia mover as peças com uma calma desconcertante. Chamava-se Juan Pujol García. Para os alemães ele era o agente Arabel, para os britânicos o lendário Garbo. Este espião duplo não comandava exércitos nem liderava batalhas, mas criou uma rede fictícia de agentes que alimentava o comando nazi com informações cuidadosamente fabricadas.

    Garbo sabia que a desinformação era uma arma poderosa e usava-a com mestria. Inventava agentes com histórias verossímeis, profissionais, localizações estratégicas e até pequenos detalhes pessoais que tornavam os seus relatórios praticamente impossíveis de contestar. As mensagens partiam muitas vezes de Lisboa, através de transmissões codificadas por rádio, e misturavam factos verdadeiros com dados falsos, enganando os alemães a cada passo.

    Nas semanas que antecederam o Dia D, Garbo enviou uma mensagem fundamental. Nela afirmava que tinha chegado atrasado para avisar sobre o verdadeiro ataque aliado, mas que o que os alemães estavam a ver em Normandia não passava de uma distração. O desembarque real, dizia com firmeza, seria muito mais ao norte, em Pas-de-Calais. Essa informação chegou a Berlim e foi aceite como verdadeira, levando o alto comando alemão a manter as suas divisões Panzer longe das praias onde, de facto, os Aliados se preparavam para atacar.

    Na madrugada do 6 de junho, as forças aliadas invadiram as praias de Omaha, Utah, Gold, Juno e Sword, enfrentando feroz resistência, mas beneficiando do erro de cálculo do inimigo, induzido por Lisboa e o espião que sabia como jogar o jogo da mentira.

    Enquanto isso, na capital portuguesa, a identidade de Garbo era um mistério para a maioria. Uns diziam que ele era apenas um espanhol comum, vivendo discretamente entre traduções e contactos em cafés. Outros suspeitavam que por trás daquele homem simples se escondia algo muito maior. Só após o fim da guerra é que a verdadeira dimensão da sua missão foi revelada e com ela o papel crucial que Lisboa desempenhou.

    Esta história mostra que, apesar de Portugal se manter oficialmente neutro durante a Segunda Guerra Mundial, a sua capital foi um dos centros estratégicos da espionagem mundial. Lisboa acolheu encontros secretos, serviu de base para transmissões cifradas e tornou-se palco de manobras que influenciaram diretamente os destinos dos exércitos em combate.

    O Dia D foi uma das maiores operações militares da história, mas poucos sabem que uma parte fundamental do sucesso dos Aliados teve origem nas ondas de rádio que saíam discretamente de Lisboa. A cidade, muitas vezes vista apenas como um ponto de passagem, mostrou que podia ser muito mais: um lugar onde a inteligência e a astúcia venceram, mesmo quando os canhões ainda não tinham disparado.

    Esta é a memória de um momento em que o silêncio da capital portuguesa contribuiu para enganar Hitler e, de certa forma, ajudar a salvar o mundo.

    A revista que Hitler mandava distribuir em Portugal

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    Entre 1941 e 1943, durante os anos mais sombrios da Segunda Guerra Mundial, Portugal, país oficialmente neutro, tornou-se território de penetração de uma sofisticada operação de propaganda nazi. Chegavam por comboio, vindos de Paris, milhares de exemplares da edição portuguesa da revista Signal, publicada com o título SINAL. Eram cuidadosamente distribuídos por livrarias, quiosques, cafés, embaixadas e entidades selecionadas, com especial atenção a oficiais, jornalistas, padres, empresários e figuras influentes.

    A revista era produzida em Berlim e impressa em França, com tiragens controladas e uma qualidade gráfica invulgar para a época. As capas surgiam frequentemente a cores, numa altura em que tal ainda era um luxo reservado a poucas publicações internacionais. As fotografias mostravam soldados alemães bem fardados, cidades organizadas, desfiles, tecnologias avançadas, operárias sorridentes. Não havia cadáveres, nem campos de concentração, nem ruínas. Havia uma imagem trabalhada da Alemanha como potência moderna, limpa, racional, invencível. Era este o retrato que a máquina de propaganda do Terceiro Reich pretendia projetar junto dos portugueses, e que muitos acolhiam com interesse.

    A operação era coordenada a partir da Legação Alemã em Lisboa, sob a direção do chanceler Wilhelm Klein e executada no terreno por Kurt Zehntner, adido de imprensa e agente cultural alemão. Este último assumia a responsabilidade de receber os volumes, gerir a distribuição, controlar os pagamentos e remeter os lucros para Berlim. Tudo funcionava com uma precisão germânica. A propaganda era tão disciplinada como o exército que representava.

    Estima-se que tenham sido distribuídos cerca de 15 mil exemplares em Portugal ao longo dos dois anos em que a revista circulou. O número é significativo, considerando o contexto da época. A neutralidade portuguesa não impediu que a SINAL fosse permitida e até discretamente incentivada pelas autoridades. A censura do Estado Novo, embora vigilante, deixava passar esta publicação sem grande resistência. A estética e o conteúdo encaixavam-se bem nos ideais da ordem, da disciplina e da autoridade que o regime salazarista cultivava. A Alemanha era observada com uma certa admiração técnica e cultural, mesmo que o seu autoritarismo fosse excessivo aos olhos de Lisboa.

    O impacto da SINAL não deve ser subestimado. Embora Portugal não tenha aderido politicamente ao Eixo, a revista representou uma tentativa clara de ganhar terreno ideológico junto da elite portuguesa. Não se tratava de doutrinar de forma direta, mas de introduzir uma visão do mundo. Uma visão em que a Alemanha liderava, a modernidade era inseparável da força, e o progresso surgia associado à obediência e à ordem. O método era subtil, quase inofensivo na aparência, mas profundo na intenção.

    A força da revista residia precisamente na sua capacidade de disfarçar a propaganda sob uma aparência de modernidade editorial. Os leitores não se sentiam manipulados, mas informados. Não percebiam que o conteúdo era cuidadosamente filtrado para ocultar a brutalidade do regime nazi. A beleza gráfica servia para mascarar a violência política.

    Hoje, um exemplar da SINAL é uma peça de estudo. Permite observar como a propaganda se transforma com o tempo, como se adapta ao meio onde é inserida e como pode operar mesmo em contextos oficialmente neutros. A presença desta revista em Portugal é mais do que uma nota de rodapé. É uma evidência de que a Segunda Guerra não se travou apenas nos campos de batalha, mas também nas ideias, nas imagens, nas palavras impressas. E que o nosso país, mesmo mantendo-se à margem do conflito armado, não esteve imune às tentativas de influência por parte de um dos regimes mais perigosos do século XX.

    A história da SINAL em Portugal recorda-nos que a propaganda mais eficaz não é a que se impõe, mas a que se insinua. E que, em tempos de guerra, a neutralidade pode ser apenas uma aparência.

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